Subscribe Now!

tudo o que você queria saber sobre a arte você não vai encontrar aqui.

sábado, 22 de setembro de 2007

Craniana caixa 2

Quando eu era jovem, eu pensava que com a arte seria possível mudar o mundo.

Eu buscava constantemente um espetáculo que pudesse despertar no coração do público uma esperança.

Eu queria mostrar uma maneira diferente de viver, com mais amizade, criatividade, sem a obrigação de perseguir o dinheiro e o poder. Ilusão fútil que eu nunca consegui alcançar. Não só a revolução não chegou, como as pessoas se tornaram cada vez mais loucas e materialistas.

Quando eu me dei conta disto eu vivi momentos difíceis pensando, pensando inclusive que minha vida era um fracasso e que todo esforço era inútil.

Mas um dia eu tive uma revelação: se não se pode mudar o mundo, pelo menos é possível mudar a si mesmo, encontrar algo em seu coração, um desejo, uma necessidade e entregar-se totalmente a ele, sem olhar para trás. Isso não é para a sociedade ou para os outros, não, é para você mesmo.

E eu fazendo esse palhaço que eu sou, eu encontrei essa coisa. Provocar, burlar e fazer o público rir. Isso era tudo o que eu buscava em minha vida. Por certo eu não mudava o mundo, mas os palhaços nunca mudaram o mundo, passam o tempo tentando sem nunca conseguir, por isso são palhaços.

Os palhaços gostam do fracasso e das ações ineficazes, são perdedores alegres e isto é a verdadeira força que têm, nunca se cansam de perder. Desfrutam de cada fracasso e voltam em seguida a fracassar de novo, diluindo assim as certezas das pessoas sérias e que nunca duvidam.

Então, esse sangue que pareço ter na minha cabeça, esse sangue que tenho sobre a minha camisa, esse sangue que tenho no meu coração, esse sangue que está todo em mim é tão patético e inútil em seu simbolismo porque é sangue de um palhaço. Um sangue que não vem de uma grande luta ou em nome de uma causa heróica. É sangue de brincadeira, ao mesmo tempo verdadeiro e pouco importante.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

O Artista de Chuang-Tsé

Bem- disse-lhe o príncipe when-huei-como a sua arte pode alcançar grau semelhante?

O açougueiro depôs a faca e disse:-Amo o Tao e,assim,progrido na minha arte.No inicio da minha carreira,eu via apenas o boi.depois de três anos de experiência,eu já não via o boi.hoje,é mas o meu espírito do que os meus olhos que agem.Meus sentidos já não agem
só meu espírito.Conheço a conformação natural do boi e por isso trabalho só com os interstícios.Se não danifico as artérias,as veias,os músculos e os nervos,com mais motivo ainda não danifico os grandes ossos! Um bom açougueiro comum usa uma faca por ano,porque só corta a carne.O açougeiro comum usa uma faca por mês porque a quebra nos ossos.uma mesma faca vem me servindo há dezenove anos.Ela já desmenbrou milhares de bois e sua lâmina dá sempre a impressão de que acabou de ser amolada.para dizer a verdade,as articulações dos ossos contêm interstícios,e a lâmina da faca não é espessa.Aquele que sabe introduzir a lâmina com toda delicadeza nos interstícios maneja com facilidade,pois opera pelos ambientes vazios.Eis por que venho me servindo da minha faca há dezenove anos e a sua lâmina parece recém-amolada.Cada vez que corto articulações dos ossos,observo as dificuldades particulares a vencer e prendo o fôlego,fixo o olhar e trabalho lentamente.Manejo minha faca com grande suavidade e as articulações se separam com a mesma facilidade com a qual depomos terra no solo.Tiro minha faca e me levanto...